Na Solidão dos Campos de Algodão (Ago22)

Com espaço cênico inspirado em obra de Cildo Meireles, espetáculo Na Solidão dos Campos de Algodão estreia na Praça das Artes


Trabalho dirigido por Eliana Monteiro é uma montagem do texto do renomado dramaturgo francês Bernard-Marie Koltès. Além de assistir à peça, público pode visitar o espaço cênico 


Link para download de fotos - Créditos Mayra Azzi 5


“(...) afinal de contas, você não se desviou, pelo fato de toda linha reta existir apenas em relação a um plano, e nós nos movermos em dois planos distintos. E afinal de contas, só existe o fato de você ter me olhado e eu ter cruzado esse olhar, ou o inverso e, portanto, por mais absoluta que fosse, a linha em que você se movia tornou-se relativa e complexa, nem reta nem curva, mas fatal” – trecho da peça de Bernard-Marie Koltès



Considerado um dos grandes 

nomes do teatro francês contemporâneo, o dramaturgo Bernard-Marie Koltès (1948-1989) escreveu, em 1985, a peça Na Solidão dos Campos de Algodão, que acaba de ganhar uma montagem inovadora e ousada dirigida por Eliana Monteiro. O espetáculo estreia na Praça das Artes, onde fica em cartaz entre 11 e 31 de agosto, em temporada gratuita.

A peça é encenada em uma instalação cênica que foi inspirada na obra “La Bruja”, do renomado artista plástico carioca Cildo MeirellesEsse espaço é todo composto por centenas de fios brancos que invadem e se apropriam da sala de exposições da Praça das Artes, criando uma espécie de não-lugar. E esse cenário poderá ser visitado pelo público fora

apresentações.

A obra de Koltès adota como protagonista a própria linguagem. Na trama, duas pessoas se encontram à noite em um local indefinido - aparentemente com o pretexto de fazer negócios. Uma delas pretende fornecer o que a outra desejaria, mas nem o desejo, nem a mercadoria são revelados. E essa relação mostra-se, ao longo do tempo, como um combate sem vencedores, tendo a solidão como horizonte e a palavra como principal arma.

Há aí uma espécie de comércio do desejo, em que o Dealer oferece ao outro o que ele desejar, não sem violência, numa relação que vai se estabelecendo como contraditória e tensa. Essa ‘oferta’ força vendedor e comprador a entrar em contato com sua mais profunda condição humana, com aquilo que pode haver de mais escondido, e que é feito explícito na peça, pelo embate de pensamento dos dois”, comenta a diretora Eliana Monteiro sobre o texto.

A montagem também inova ao trazer, pela primeira vez, os dois protagonistas masculinos do texto interpretados por mulheres, as atrizes Lucienne Guedes e Mawusi Tulani.

Aqui no Brasil, Na Solidão dos Campos de Algodão ganhou uma icônica montagem no porão do CCSP – Centro Cultural São Paulo em 1996, dirigida por Gilberto Gawronski e estrelada por ele e por Ricardo Blat. Na época, a encenação evocava a questão do HIV/AIDS e como a doença representava um fantasma bastante cruel que rondava os desejos e o imaginário da sexualidade tal como um castigo. 

“Quase 20 anos depois, a AIDS, e mesmo a questão da homossexualidade ali depositada na tensão entre os dois homens da peça, embora não explicitamente, já não está tão presente nos medos do nosso imaginário. Agora, nossa montagem leva ambas as questões para o plano do enfrentamento e disputa social e política, deslocando o problema para a esfera judicial e da militância, felizmente. E, então, a cena teatral desses problemas também tem mudado de feição”, compara a diretora.

Oficina

Além do espetáculo e da visitação ao espaço cênico, a Praça das Artes recebe a oficina “Procedimentos de criação da montagem de Na Solidão dos Campos de Algodão”, ministrada pela diretora e pelas atrizes. A atividade acontece nos dias 23, 24 e 26 de agosto (veja mais informações abaixo).

A ideia da atividade é fazer com que as/os participantes experienciem 

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