Com uma radicalização das questões políticas propostas pelo clássico teatral Um Inimigo do Povo, de Henrik Ibsen (1828-1906), José Fernando Peixoto de Azevedo se inspira no cinema para uma montagem mais moderna para a obra do dramaturgo norueguês. O espetáculo chega em sua última semana com sessões gratuitas no Teatro Cacilda Becker (De 17 a 21 de abril). As sessões são de quarta a sábado, às 20h30, e domingo, às 19h.
O elenco é formado por Angela Ribeiro, Augusto Pompêo, Cesar Baccan, Lilian Regina, Lucas Scalco, Raphael Garcia, Rodrigo Scarpelli, Rogério Brito, Sergio Mastropasqua e Thiago Liguori.
Com uma crítica extremamente atual, o texto de Ibsen acompanha o drama do médico Thomas Stockmann, que é ameaçado pelos interesses econômicos e a corrupção do poder público ao descobrir e denunciar que as águas de sua cidade – cuja principal atividade é um balneário e termas – estão contaminadas.
O anúncio gera um enorme conflito quando os empresários locais mobilizam, com apoio da imprensa, a opinião pública contra o protagonista, transformando o herói da cidade em um inimigo do povo – a massa forjada nos confrontos de poder. E tudo ganha uma proporção ainda maior porque ele é irmão do prefeito e casado com a filha adotiva de um grande empresário.
A encenação de José Fernando Peixoto de Azevedo acentua a exposição pública do médico fazendo com que o episódio ganhe ares de terror. Para contribuir com essa atmosfera, o trabalho tem como referência cinematográfica o clássico A Noite dos Mortos Vivos (1968), do estadunidense George A. Romero, que traz um protagonista negro tentando sobreviver em um país onde as pessoas da classe média branca se transformam em zumbis, por conta de uma epidemia. Nessa sociedade armada e organizada em milícias, que quer eliminar a todo custo os mortos-vivos, o personagem vivido pelo ator Duane Jones acaba “confundido” com uma das criaturas e é assassinado.
E o diálogo com o audiovisual não para por aí. Assim como em outros trabalhos dirigidos por Azevedo, como a bem-sucedida montagem de As Mãos Sujas (2019), de Sartre, a nova peça traz para o palco um dispositivo em que a câmera contracena com os atores, desdobrando-se na materialidade da imagem, em jogo.
A discussão proposta pelo dramaturgo norueguês ainda é radicalizada pela presença de atores negros no elenco –, trazendo para a cena a dimensão dos conflitos raciais que nos tomam no tempo presente e também contribui para a discussão sobre a presença de artistas negros no teatro brasileiro.
“A racialização dos corpos em cena potencializa, certamente, aspectos de um debate sobre as dimensões do racismo no Brasil, e nos faz ver que a trajetória de mobilidade social numa sociedade em que a violência é estrutural, quase sempre é vivida como um filme terror. A pandemia apenas evidenciou esse teor, quando cada vez mais vimos o sentido efetivo de uma sociedade confinada: aqui, desde sempre, populações inteiras são marcadas, cercadas e alvejadas pela violência do Estado a serviço do capital; cercadas e assassinadas ao vivo”, comenta o diretor.
Todas essas questões são acentuadas pelo impacto do momento em que vivemos, já que a contaminação das águas proposta pela peça escrita em 1882 pode ser facilmente comparada à pandemia de Covid-19 e as nefastas disputas políticas e econômicas em torno da catástrofe, diariamente televisionadas. Sucesso de público e crítica, o espetáculo fez temporada no Teatro Aliança Francesa, Itaú Cultural e Festival Mirada.
Sinopse Um médico se vê em meio a uma trama de interesses econômicos e corrupção, quando descobre a contaminação das águas, numa cidade que vive de seu balneário e termas. As disputas se desdobram num conflito a um só tempo particular e público.
Ficha Técnica Texto: Henrik Ibsen Tradução: Pedro Mantiqueira Revisão de tradução: Karl Erik Schøllhammer Dispositivo de cena e Direção: José Fernando Peixoto de Azevedo Elenco: Angela Ribeiro, Augusto Pompêo, Cesar Baccan, Lilian Regina, Lucas Scalco, Raphael Garcia, Rodrigo Scarpelli, Rogério Brito, Sergio Mastropasqua e Thiago Liguori “Ponto” em jogo: Tatah Cardozo Direção Musical e Live-Electronics: Thiago Liguori Câmera e edição de imagens: André Voulgaris Desenho de luz: Gabriel Greghi e Wagner Pinto Figurino: Anne Cerutti Assistente de Direção: Lucas Scalco Preparação corporal: Tarina Quelho Cenotécnico: Douglas Caldas Operador de luz: Gabriel Greghi e Jonas Ribeiro Fotos: Ronaldo Gutierrez Programador Visual: Rafael Oliveira Operação de Luz: Guilherme Orro Operador de Som: Silney Marcondes Relações Públicas: Cynthia Rabinovitz Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes Estágio de direção: Tatah Cardozo Diretor de Produção: Cesar Baccan Produtor Executivo: Marcelo Ullmann Assistente de Produção: Lúcia Rosa e Rebeca Oliveira Produção e Realização: Baccan Produções e Kavaná Produções
Serviço Horários: Quarta a sábado, às 20h30, e domingo, às 19h. Ingressos gratuitos. Reserve pelo sympla ou retire uma hora antes da peça na bilheteria. Sympla: https://www.sympla.com.br/evento/um-inimigo-do-povo/2353002 Duração: 160 minutos, com um intervalo de 10 minutos. Classificação: 12 anos.
Teatro Cacilda Becker (De 17 a 21 de abril) R. Tito, 295 - Lapa, São Paulo - SP, 05051-000 - Telefone: (11) 3864-4513
Informações para imprensa Adriana Balsanelli Telefone 11 99245 4138 imprensa@adrianabalsanelli.com.br Renato Fernandes 11 97286-6703 renato.fernandesgon@gmail.com |
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