Boy (Jun22)

Com direção de Isaac Bernat, solo BOY discute os anos 90, a nova república e os direitos LGBTQIA+ sob a epidemia de HIV/AIDS


Interpretado pelo ator Gil Hernández, o solo de Rogério Corrêa estreia em junho na Casa Fluida, espaço dedicado à cultura drag queen e amigável à comunidade LGBTQIA+


Com dramaturgia de Rogério Corrêa, direção de Isaac Bernat e interpretação de Gil Hernández, Boy estreia no dia 20 de junho na Casa Fluida, novo bar em São Paulo dedicado à cultura drag queen e amigável para a comunidade LGBTQIA+, onde segue em cartaz até o dia 28 de junho, com apresentações às segundas e terças feiras, às 19:30h. 

O espetáculo nasceu da peça “De Bar em Bar”, escrita pelo próprio Rogério Corrêa, que reúne os monólogos de quatro personagens que viveram no governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992), quando, além da grande crise econômica e política, o país enfrentava o auge da epidemia de HIV/AIDS. 

Boy é a versão expandida da história de um desses personagens, o michê Fernando. “Eu sentia que a história dele não cabia na peça. Ele não só descreve essa época do ponto de vista das pessoas LGBTQIA+, como viveu muito intensamente nesse período. Ele perdeu muitos amigos e viu a AIDS surgir logo depois da enorme liberação sexual, política e cultural que aconteceu depois do fim da ditadura militar”, conta Corrêa.

A trama conta a história de um garoto de programa que trabalhava como michê em uma sauna gay desde os anos do governo Collor, tendo se relacionado até com figuras importantes da política. Em 2022, no aniversário de 30 anos do impeachment o presidente Collor, ele está no bar da sua sauna e relembra como aqueles anos impactaram a sua vida. O protagonista evoca várias memórias, entre elas a epidemia de HIV/AIDS e as pessoas queridas que perderam a vida para a doença.

“O que mais me atrai nesse personagem é que ele tem uma mensagem positiva de que a AIDS não destruiu a comunidade, mesmo diante de toda a tragédia e todas as perdas representadas por aquele período. Foi preciso começar a se falar de gays, de sexo anal, de camisinha e de sexualidade. A comunidade LGBTQIA+ começou a se politizar e a se unir para lutar pelos seus direitos.  Existia uma ilusão de que a sexualidade era uma opção, mas esse período ajudou a nos mostrar como ela é tão essencial para as pessoas, pois ninguémescolheria algo que traria tanto risco para a sua vida. E o personagem Fernando é a celebração da afirmação da sexualidade, da vida e da resistência da nossa comunidade”, acrescenta o dramaturgo. 

A peça, ainda segundo o autor, traça um paralelo entre a década de 1990 e o atual contexto do país. “Temos novamente um novo político de direita no poder, com uma história de fisiologismo, de corrupção, alguém menor que se apresenta como um defensor da maioria. Também temos uma doença que matou quase 700 mil pessoas graças ao descaso deste governo genocida. Claro que as doenças são diferentes, mas quero passar uma mensagem positiva para a comunidade LGBTQIA+, que está novamente sob ataque, de que podemos nos fortalecer neste período e ser felizes, alegres e bem-sucedidos na vida, assim como o protagonista, apesar de todo esse risco de sofrermos retrocessoso diretor Isaac Bernat, que fez parte do elenco da primeira peça no Brasil sobre a AIDS – o espetáculo “Por Que Eu?” (1987), dirigido por Roberto Vignati –, conta que o novo trabalho também tem a missão de alertar as pessoas para o fato de que a doença continua infectando muitas pessoas.

“Quando fiz a peça nos anos 80, aprendi muito sobre a AIDS, porque tínhamos aulas e conversas com muitos cientistas e pesquisadores. Na época, sabia-se muito pouco sobre a doença e ainda se falava que a comunidade LGBTQIA+ era um grupo de risco, o que gerava muitos estigmas. Então, aprendemos que deveríamos falar, na verdade, sobre comportamento de risco e passamos a entender que qualquer pessoa, independentemente da orientação sexual, pode entrar em contato com o vírus”, afirma Bernat.

O diretor ainda conta que a encenação vai se basear na simplicidade. “Gil, que faz seu primeiro monólogo e já está se dedicando demais ao personagem, vai estar ali conversando com aquele público da Casa Fluida. E ele vai transitar livremente por esse espaço, como se estivesse mesmo no bar da sauna gay. A proposta baseia-se na relação de proximidade com a plateia, de conversar, trocar ideias e contar histórias. Tenho desenvolvido em vários trabalhos que dirigi recentemente essa pesquisa em cima do épico e do narrativo, com influência do grande griot africano Sotigui Kouyaté, um mestre para mim. Claro que o dramático também aparece, mas queremos esse diálogo com o público”, explica.

E, além do texto de Corrêa, o diretor traz como referência para a encenação, obras como o seriado “Pose”, que retratada os bailes LGBT e a cena drag queen nos anos de 1980 no Estados Unidos, e o trabalho do grupo de teatro e dança brasileiro Dzi Croquettes, ícone da contracultura que apresentava performances provocantes, sensuais e eróticas para falar sobre sexualidade e questionar o conservadorismo nos anos de 1970-80.

Sinopse

BOY apresenta a história de um garoto de programa que viveu no Rio de Janeiro durante os anos do governo de Fernando Collor. Em 2022, no aniversário de 30 anos do impeachment do Collor, ele está no bar da sua sauna gay e relembra como aqueles anos impactaram a sua vida. O protagonista pinta o retrato de uma época de grandes mudanças para o país: a epidemia da AIDS, o fim da ditadura e o começo da nova república. 


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